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Beladona
Regente


Mensagens: 2725
Local: Algarve
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Enviada: Dom Nov 17, 2019 22:24 Assunto :
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Um lindo soneto de Florbela Espanca...
Da Minha Janela
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito, murmurado...
Vôo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos pÃncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como um branco lilás que se desfaça!
Amor! Teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...
in "Livro de Sóror Saudade"
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Beladona
Regente


Mensagens: 2725
Local: Algarve
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Enviada: Dom Nov 17, 2019 22:26 Assunto :
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Um belo soneto de Florbela Espanca...
Realidade
Em ti o meu olhar fez-se alvorada,
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho.
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada,
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho.
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo,
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei, se te perdi...
in "Charneca em Flor"
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Beladona
Regente


Mensagens: 2725
Local: Algarve
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Enviada: Sáb Nov 23, 2019 16:22 Assunto :
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Um belo poema de Ãlvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)...
Vem, Noite antiquÃssima e idêntica.
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caÃdas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longÃnquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faz da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe,
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossÃvel de percorrer
in "Poemas"(Excerto de uma ode)
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